PALAVRA DO DIA

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Habacuque 3:2 Ouvi, SENHOR, a tua palavra, e temi; aviva, ó SENHOR, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Princípios esquecidos da Reforma por John W. Robbins


Todo Outubro, enquanto o mundo está imitando e celebrando bruxas, demônios, fantasmas e mágica em boa moda pagã e medieval, os cristãos lembram a Reforma cristã do século dezesseis, quando o evangelho de Jesus Cristo varreu toda a Europa, destruindo um Cristianismo totalmente corrompido e concedendo vida eterna a milhões de almas perdidas.

No último dia de Outubro de 1517, Martinho Lutero, um professor de universidade na Alemanha, publicou 95 proposições para debate na porta do Castelo-Igreja de Wittenberg. Alguém pegou as proposições em latim de Lutero, traduziu para o alemão, imprimiu-as, e distribui ao povo. Lutero pretendia um debate eclesiástico e acadêmico; Deus pretendia salvar almas, promover o seu reino, e mudar radicalmente o curso da história mundial.

Menos de um ano depois, Lutero foi intimado a aparecer diante do núncio papal, um italiano chamado Jacopo di Vio de Gaeta, que chama a si mesmo de Cardeal Thomas Cajetan, em Augsburgo. Gabriel Venetus em Roma tinha ordenado que Lutero fosse capturado, “preso em correntes, cadeados e algemas”, e enviado imediatamente para Roma, mas o Eleitor Frederico interveio sobre o princípio que os alemães não deveriam ser julgados em tribunais estrangeiros. Em Augsburgo
ajetan demandou que Lutero retratasse todas as críticas sobre as indulgências. Quando Lutero recusou, Cajetan explodiu em raiva, mas Lutero foi novamente protegido da ira da “Santa Igreja Apostólica” pelo Eleitor Frederico. Em 1520, Lutero foi excomungado pelo Papa. Em 10 de dezembro de 1520, Lutero queimou publicamente a bula papal de excomunhão e a lei canônica em desafio
aberto à autoridade da Igreja.

O Imperador de 20 anos de idade, Charles V, do Santo Império Romano, uma pessoa devota e fiel à Igreja Católica, intimou agora que Lutero aparecesse diante da Dieta de Worms para enfrentar a ira unida da Igreja e do Estado. Ali, diante de príncipes, nobres, bispos e o próprio Imperador, todos reunidos, Lutero encarou esse grande desafio: A pompa e poder reunido da Igreja medieval e do Estado estavam preparados contra ele. As tradições, dogmas e práticas de um milênio estavam ali para julgá-lo, um javali selvagem correndo na vinha de Deus, nas palavras do Papa que reinava. O porta-voz dos Poderes exigiu que Lutero renunciasse seus escritos – ensaios tais como O Cativeiro Babilônico da Igreja, Carta Aberta à Nobre Cristã da Nação Alemã e A Liberdade do Cristão. Para a surpresa de quase todo o mundo, e insulto do representante do Papa, Lutero pediu um dia para pensar, o que o Imperador concedeu.

Lutero, talvez melhor que a maioria dos eruditos desde aquele tempo, entendeu a importância daquela assembléia, daquela pergunta e sua respectiva resposta. Por mil anos a Igreja Romana tinha reivindicado e reforçado um monopólio sobre Deus e a verdade, pelo menos naquele pequeno anexo da terra eurasiana chamada Europa Ocidental. A Igreja alegava insolentemente que era o único repositório da revelação sobre a Terra, a autora da própria Escritura, dona de tradições tão celestiais que os apóstolos jamais escreveram, a guardiã da teosofia dos cristãos, e representante de Deus sobre a Terra. O desenvolvimento de seu dogma era a revelação da própria Verdade, e ela não poderia errar. Por milhares de anos, milhões de pessoas tinham crido nessas alegações megalomaníacas. Reis, príncipes e Imperadores foram intimidados e humilhados pela Igreja. Quando Lutero enfrentou os poderes reunidos em Worms, estava confrontando não meramente o Imperador atual e o bispo que reinava então, mas milhares de anos de história. Ele queria que sua resposta fosse lembrada por outros milhares de anos.

Pressionado para dar como resposta um sim ou não, Lutero discursou da forma como sabia que deveria fazer. Primeiro, reconheceu que os livros em questão eram todos seus. Ele recusou esquivar-se do assunto negando sua autoria ou tentando alguma outra evasão. Segundo, como um bom teólogo e logicista, ele dividiu corretamente seus livros.

Apontou que alguns de seus escritos eram simples declarações de verdades cristãs aceitas, de natureza pastoral, e que mesmo alguns dos seus oponentes tinham admitido que todo cristão poderia se beneficiar lendo os mesmos. Denunciar esses escritos seria pecado.

Terceiro, Lutero distinguiu outros escritos nos quais ele tinha atacado a vida e doutrinas do
papado e papistas. Os escândalos deles eram bem conhecidos, e denunciar aqueles escritos seria pecado também. Quarto, ele disse que alguns dos seus escritos eram ataques a indivíduos que se opunham à sua teologia; ele admitiu que tivesse sido duro algumas vezes; e pediu desculpas por qualquer severidade exagerada naqueles escritos. Lutero admitiu que era um pecador que poderia errar, mas seus erros doutrinários deveriam ser demonstrados a partir da Escritura. Ele disse:

Por causa do meu ensino, perigo, dissensão e conflitos têm se levantado no mundo. Assim, ontem fui admoestado sobre eles nos mais fortes termos. Mas eu vi o que aconteceu e o que está acontecendo. E devo dizer que para mim é um espetáculo prazenteiro ver que paixões e conflitos se levantam ao redor da Palavra de Deus. Pois é assim que a Palavra de Deus trabalha! Como o Senhor Jesus disse: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim por em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra”. E assim, devemos pesar cuidadosamente quão maravilho e terrível é o nosso Senhor
em seus conselhos secretos. Devemos estar certos que aquelas coisas que fazemos para banir a contenda (se ao fazê-lo condenamos a Palavra de Deus), não nos leve antes a uma enxurrada de mal insuportável. Então, poderia ser que o governo deste jovem, nobre príncipe Charles (em quem, abaixo de Deus, temos muita esperança), se torne enfermo para morte. Eu poderia recordar muitos exemplos da Escritura – Faraó, o Rei da Babilônia, os Reis de Israel – que mostraria como eles caíram totalmente por terra quando tentaram livrar os seus reinos de contenda por meio de sua própria sabedoria.


Observe o que Lutero fez:

(1) Ele não recuou de sua confrontação com os poderes combinados da Europa; seu adiamento apenas aumentou a antecipação e focou uma maior atenção em suas palavras.

(2) Ele reconheceu candidamente que os livros em questão eram seus, garantindo assim uma colisão direta e de frente com os pretensiosos potentados do Cristianismo.

(3) Ele diferenciou cuidadosamente entre os seus livros, apontado que denunciar alguns deles seria pecado.

(4) Ele se regozijou que o seu ensino tinha causado perigo, dissensão e conflitos no mudo, pois esse era precisamente o efeito inicial que o Evangelho tem na sociedade; e advertiu contra tentar manter a paz mediante um comprometimento da Palavra de Deus.

(5) Lutero avisou ao jovem Imperador que tinha um Rei no Céu também, e que seria melhor ele ser cuidadoso em seus julgamentos, lembrando-o de Faraó, Belsazar, e muitos Reis perversos de Israel.

Mas os seus perseguidores não cederam. Demandaram uma resposta “sem chifres ou dentes”. Eles receberam:

Já que vossa Majestade e vossas excelências desejam uma resposta breve, vou responder-vos sem quaisquer chifres e dentes: A menos que seja convencido pela Escritura e pela clara razão (não creio na autoridade de papas ou concílios, pois eles têm freqüentemente errado e se contradito mutuamente) naquelas passagens das Sagradas Escrituras que apresentei,
pois minha consciência é cativa da Palavra de Deus, não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Deus me ajude. Amém.

Um observador espanhol disse que Lutero, na escuridão da reunião, levantou suas mãos acima de sua cabeça no gesto de triunfo usado pelos cavaleiros alemães. Alguns observadores gritaram: “Ao fogo! Ao fogo!”.

A despeito dos esforços da “Santa Igreja Apostólica”, Lutero não foi queimado vivo, como muitos outros santos tinham sido assassinados pela Igreja Romana por séculos. Ele viveu outros 25 anos, escrevendo, traduzindo e organizando. Desses escritos, e dos escritos de outros Reformadores, vieram o que são geralmente considerados os princípios da Reforma: justificação pela fé somente, salvação pela graça somente por meio dos méritos de Cristo somente, tudo para a glória de Deus somente. E esses princípios são as verdades cristãs mais importantes que têm sido abafadas pelo Anticristo por um milênio.

São verdades que estão sob ataque hoje por homens que alegam ser cristãos e protestantes,
alguns dos quais são pastores de igrejas nominalmente Reformadas.

Mas há outros princípios da Reforma, até mais fundamentais que esses, e podem ser vistos na peroração de Lutero. Primeiro, ele declara sua aceitação axiomática das Escrituras: “A menos que seja convencido pela Escritura e pela clara razão…”. A Escritura era o ponto de partida axiomático de Lutero, sua única autoridade. Ele falou tanto sobre esse princípio que o mesmo ficou conhecido como o Schriftprinzip. Aqui estão umas poucas de suas considerações sobre o axioma da Escritura (os números seguindo cada parágrafo são os números do parágrafo em What Luther Says, um compêndio de seus escritos):

A questão de suprema importância para nós é apreciar o valor e uso da Escritura, isto é, saber que ela é um testemunho a todos os artigos de Cristo, e o mais alto testemunho – que excede de longe todos os milagres.Cristo indica isso ao homem rico (Lucas 16:29-31)… Os mortos podem nos
enganar, mas a Escritura não… Assim, Cristo quer enfatizar isso bem mais que sua aparição. Ele não diz: Por que você não quer crer na mulher que lhe disse que eu ressuscitei? Nem diz: Por que você não quer crer nos anjos que testemunharam minha ressurreição? Ele os dirige simplesmente de si mesmo para a Palavra e a Escritura [194].

Mesmo que as pessoas colocassem todos os livros de todas as faculdades sobre a Terra diante de nós, ainda não poderíamos adquirir deles um conhecimento da origem de Adão, do pecado e da morte, ou do efeito do pecado; pois somente a Escritura Sagrada ensina essas coisas. Esse é o
motivo pelo qual devemos estudá-la, pois nos tornaremos mais sábios que o resto inteiro do mundo. Quem não consulta a Escritura não saberá nada [201].

Podemos ver quão ricamente Cristo recompensou os papistas por chamar sua Escritura de obscura, perigosa e desviante. Ele deixou que eles lessem um pagão morto [Aristóteles] nos quais escritos não existe nenhuma ciência real [conhecimento], mas pura escuridão. E o que eu disse é o melhor que pode ser dito de Aristóteles. Não direi nada das passagens nas quais ele é absolutamente venenoso e mortífero. Todas as escolas para aprendizado avançado merecem ser reduzidas ao pó. Nada mais infernal e satânico que jamais veio ou virá sobre a Terra [232].

everíamos observar com cuidado particular que os apóstolos atribuíram tamanha autoridade à Escritura que não estamos sob a obrigação de aceitar nada que não esteja afirmado nela… deveríamos da mesma forma rejeitar todas as doutrinas não-escriturísticas [259].

A Escritura deve ser entendida somente através daquele Espírito que a escreveu. Esse Espírito você não pode encontrar mais certamente e ativo do que nas Sagradas Escrituras, que ele mesmo escreveu. Nosso esforço, portanto, não deve ser colocar a Escritura de lado e dirigir nossa atenção aos escritos meramente humanos dos Pais. Pelo contrário, colocando todos os escritos humanos de lado, deveríamos gastar mais tempo e trabalho persistente nas Santas Escrituras somente… Ou digam-me, se puder, quem é o juiz final quando as declarações dos Pais se contradizem? Nesse evento,o julgamento da Escritura deve decidir a questão, algo que não pode ser feito se não dermos à Escritura o primeiro lugar… assim, quando ela é o seu próprio intérprete, é mais certa, clara e facilmente entendida, aprovando, julgando e iluminando todas as declarações de todos os homens…
Portanto, nada exceto as palavras divinas devem ser o primeiro princípio para os cristãos; todas as palavras humanas são conclusões extraídas delas e devem ser testadas e aprovadas por elas [267].

A doutrina da Escritura deve ser aprovada, mesmo que Herodes a apresentasse e cometesse nada senão assassinatos. Da mesma forma, por outro lado, a doutrina dos homens não deve ser aprovada, mesmo que S. Pedro, Paulo ou um anjo a apresentasse e produzisse um dilúvio de milagres
[277].

Mas há outro princípio da Reforma, na verdade parte do axioma da Escritura
declarado de outra forma: As leis da lógica. Note que Lutero rejeita a autoridade de papas econcílios porque eles se contradizem mutuamente: “Não creio na autoridade de papas ou
concílios, pois eles têm freqüentemente errado e se contradito mutuamente”. A Reforma
começou com uma rejeição da contradição e do paradoxo lógico, e não abraçando isso.
Aqueles que hoje alegam ser Reformados e, todavia, louvam o paradoxo, abandonaram esse
princípio da Reforma.

Diferente de teólogos modernos que encontram na contradição, paradoxo, antinomia, mistério e tensão um sinal de divina “inspiração”, “espiritualidade” e “piedade”, Lutero rejeitou a contradição como um erro: “Eles [papas e concílios] têm freqüentemente errado e se contradito mutuamente”. Pode parecer elementar ao leitor que o erro não deveria ser crido, mas no caos chamado filosofia contemporânea, esse ponto elementar é negado. Por exemplo, o filósofo Nicholas Wolterstorff, considerado como co-fundador (com Alvin Plantinga) de um movimento filosófico contemporâneo chamado pelo nome errado de “Epistemologia Reformada”, escreveu em seu pequeno livro, Reason Within the Bounds of Religion (Eerdmans, 1984): “Algumas das coisas que Deus quer que creiamos pode ser adequado e apropriado para nós como suas ‘crianças’ crer, mas, estritamente falando, pode ser falso” (99). A Neo-ortodoxia ensina que é possível Deus se revelar por meio de falsidades. A própria verdade é negada pelos teólogos e filósofos “Reformados” modernos. O que esses teólogos e filósofos negam é o que Gordon Clark chamou de
“primazia da verdade”. Ele explicou o conceito em seu livro Religion, Reason and Revelation:

A primazia da verdade significará que nossas ações voluntárias devem se conformar à verdade. Obviamente, algumas vezes isso não acontece. Se é verdade que adorar a Deus é bom, devemos adorá-lo. Talvez escolhamos não adorar a Deus, mas a verdade é superior em direito à nossa vontade. Essa maneira de colocar as coisas se estende à escolha voluntária da crença
também. Podemos escolher crer numa verdade, ou podemos escolher crer uma mentira. Os dois tipos de escolha ocorrem de fato. Mas a primazia da verdade significa que devemos crer na verdade e não devemos crer na mentira [105].

Lutero aceitou o que Clark mais tarde chamou de a primazia da verdade. Alguns filósofos contemporâneos não. Por causa de sua aceitação das leis da lógica e o princípio da não-contradição, Lutero escreveu:

Passagens da Escritura que se opõem uma a outra devem, sem dúvida, ser reconciliadas, e uma deve receber um significado que concorde com o sentido da outra; pois é certo que a Escritura não pode discordar de si mesma [220].

A Sagrada Escritura deve certamente ser mais clara, evidente e mais explícita que os escritos de todos os outros, pois por ela, como por um escrito mais claro e confiável, todos os mestres provam suas declarações; e eles querem que seus escritos sejam confirmados e clarificados por ela. Mas sem dúvida ninguém pode provar uma declaração obscura com outra ainda mais obscura. Portanto, devemos voltar às Escrituras com os escritos de todos os mestres e dessa fonte recebemos nosso julgamento e veredicto com respeito a eles. Pois somente a Escritura é o Senhor e mestre verdadeiro de todos os escritos e ensinos sobre a Terra [226].

Eu aprendi a sustentar somente a Escritura Sagrada como inerrante. Todos os outros escritos que leio, não importa quão eruditos ou santos possam ser, não me atenho ao que ensinam, a menos que provem pela Escritura ou razão que assim devem ser [264].

Há ainda outro princípio da Reforma que é largamente esquecido hoje: o direito de julgamento privado. Aqueles que defendem a tradição e autoridade da igreja e desprezam os “solitários”, “cismáticos” e individualistas, ecoam os tiranos de Roma. Estando sozinho diante dos poderes reunidos de Europa, Lutero disse: “Minha consciência é cativa da Palavra de Deus, não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência”. Ao fazer isso, Lutero estava imitando Elias, que pensava ter ficado sozinho; e Daniel, que sozinho enfrentou os leões e se tornou governante da Babilônia; e Cristo, permanecendo sozinho diante dos poderes do judaísmo e da Roma pagã; e Paulo, que disse que ninguém tinha ficado com ele em seu julgamento; e Atanásio, que se opôs a todos os outros bispos; e Wycliffe, Hus e muitos outros. O Senhor tem freqüentemente levantado tais indivíduos heróicos, permanecendo sozinhos pela Palavra de Deus, desafiando o julgamento de reis, concílios e papas. Os defensores da autoridade e tradição da igreja não são dignos de desatar as sandálias deles.

Lutero não estava apresentando alguma filosofia do Grilo Falante, de “deixe sua consciência ser seu guia”; estava apresentando o princípio bíblico que o único guia confiável é a Escritura, e é o direito de todos os homens ler e interpretar a Escritura por si mesmo, de acordo com as regras da lógica que a própria Escritura contém. Quanto aos assim chamados Pais da igreja, Lutero escreveu: “A Escritura deveria ser colocada lado a lado com a Escritura de uma forma correta e apropriada. Aquele que puder fazer isso melhor é o melhor dos Pais” (268). Todos aqueles toleram a veneração dos “Pais da Igreja” deveriam ler essa última sentença de novo. Lutero escreveu:

S. Pedro endereçou essas palavras a todos os cristãos, sacerdotes e laicos, homens e mulheres, jovens e velhos, seja qual for a posição ou situação em que estejam. Segue-se que todo cristão deveria conhecer o fundamento, e a razão de sua fé, e ser capaz de mantê-la e defendê-la quando necessário.

Mas até aqui a leitura da Escritura vinha sendo proibida aos laicos… Quando você estiver para morrer, não estarei contigo; nem o papa estará. Se você então não conhece o fundamento de sua esperança, mas meramente diz: ‘Creio como os concílios, o papa e os Pais têm crido’, e o diabo
responderá: ‘Sim, mas e se eles estiverem errados?’. Então ele terá ganho e te levará para o Inferno.

Portanto, devemos conhecer o que cremos, a saber, o que é a Palavra de Deus, não o que o papai e os santos pais crêem ou dizem. Você não deve colocar confiança em nenhuma pessoa, mas na palavra de Deus pura [239].

Bispos, o papa, o sábio, e todos os demais têm o direito de ensinar; mas a ovelha deve julgar se eles estão ensinando o que Cristo diz ou o que um estranho diz… Portanto, que os bispos e concílios decidam e estabeleçam o que lhes agradar. Mas se temos a Palavra de Deus diante de nós, somos nós, e não eles, que devem decidir o que é certo e o que é errado [270].

Desse direito de julgamento privado brota o princípio bíblico de liberdade de religião, tão combatido pelas três religiões medievais que estão agora em guerra entre si no século vinte e um: Romanismo, Islamismo e Judaísmo. Tragicamente, muitos que alegam ser cristãos e protestantes também se opõem à liberdade de religião e à separação institucional de igreja e estado. Lutero viu que o Cristianismo implica a liberdade de consciência e separação da igreja e estado:

Além do mais, todo o mundo arrisca crendo no que crê. Ele deve verificar por si mesmo se aquilo no que crê está correto. Um homem pode crer ou descrer por mim, tanto quanto pode ir para o Inferno ou Céu por mim; e ele pode me levar à fé ou incredulidade tanto quanto pode abrir ou fechar o Céu ou o inferno pra mim. Visto que, então, a crença ou incredulidade é uma questão de consciência da pessoa, e visto que isso não diminui o poder secular, esse poder deveria ficar satisfeito e cuidar do seu próprio negócio, deixando os homens crer numa coisa ou noutra, como forem capazes e dispostos, e não deveria constranger ninguém por força. Pois a fé é um ato
voluntário para o qual uma pessoa não pode ser forçada. De fato, é um ato divino, feito no espírito, certamente não uma obra que um poder externo deve forçar e criar [1004].

A fé não forçará e pressionará alguém a aceitar o Evangelho… Mas aqui você vê o papa errar e cometer erros quando ele presume conduzir as pessoas por força; pois o Senhor ordenou que os discípulos apenas pregassem o Evangelho. E isso é o que os discípulos fizeram; eles pregaram
o Evangelho e deixaram-no atingir quem quisesse. Eles não diziam: Creia, ou te matarei [1410].

No fim do mundo os homens não deveriam misturar dois poderes [igreja e estado], como foi feito no tempo do Antigo Testamento entre o povo judeu. Mas eles devem permanecer afastados e separados de cada deles, se haveremos de preservar o verdadeiro Evangelho e a verdadeira fé… Pois todos tentam pegar a espada. Os Anabatistas, [Thomas] Muenzer, o papa, e todos os bispos queriam governar e reinar – mas não em seu chamado. Esse é o caminho miserável do diabo… O diabo faz tudo isso. Ele não pega um feriado enquanto não misturar as duas espadas [860].

Deveríamos aprender a separar poder espiritual de temporal, tão longe quanto o Céu da Terra, pois o papa tem obscurecido grandemente essa questão e misturado os dois poderes… [861].

Esses também são os princípios da Reforma, largamente esquecidos entre aqueles que se chamam de Reformados. Devemos lembrar e defender os solas, mas devemos também lembrar e defender os princípios igualmente bíblicos da consistência lógica, a Escritura somente, o direito de julgamento privado e a separação da igreja e estado.

Fonte: http://www.trinityfoundation.org/
Extraido de http://www.monergismo.com/textos/apologetica/principios-esquecidos-reforma_robbins.pdf
Imagem extraida de luisfilipeazevedo.blogspot.com

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